quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O Momentum Presente

                             
                                                                                                     
            Você está passando férias pela primeira vez em um local muito aprazível. Resolve subir um morro ou colina até o topo para desfrutar de uma beleza rara. Ao chegar em  cima, se depara com uma paisagem maravilhosa. Por uns instantes, que duram décimos de segundo, você fica pasmo, em êxtase diante daquela beleza, do novo. Ali não há pensamento, não há ideias na mente, só o presente, só o agora. Não há identificação com a memória do passado. Ali você é a paisagem e a paisagem é você. Instantes depois você pensa que essa vista é a mais linda da sua vida, tem isso e aquilo de especial, nunca viu igual. Acabou o êxtase, acabou o maravilhar-se, pois houve a comparação, você formulou ideias na mente através da memória, de instantes do passado. Você voltou à condição normal da vida cotidiana, com os pensamentos que não param. Quase sempre, pensamentos ou do passado, ou projetados para o futuro; nunca do presente.   

           Nossos conflitos, sofrimentos e contradições são derivados de uma interpretação das coisas através de nossos pensamentos. Você caminha por uma calçada de uma rua qualquer pensando em mil coisas. Se avistar uma árvore e parar seus pensamentos por um instante somente, olhando com total atenção, terá uma surpresa, pois essa mesma árvore se tornará algo muito maior, com mais movimento com mais beleza. Pode ouvir o cantar de pássaros e até vê-los. Pode avistar um ninho, formação de galhos bem diferentes, cores das folhas que não costuma ver. Quem sabe, até um sagui ou uma lindíssima borboleta. Se estiver envolvido em um mar de ideias formuladas pela mente a todo o instante, você passa e nem toma conhecimento que ali à sua direita está à árvore.


           A vida existe a cada momento e não desfrutamos dela. Não sabemos mais como vê-la. Quem vê é o pensamento. E onde ele está a cada momento? Está no celular, no computador, no anúncio, na projeção do que farei amanhã ou no próximo feriado. Crio ansiedade, crio conflitos antes deles existirem. Se nessas projeções de pensamento não acontecer o fato que gostaríamos; experimentamos sofrimento, tensão e tristeza. Dados científicos nos informam que durante uma aula só captamos dois por cento de toda a informação, tendo em vista que não damos a devida atenção pelo matraquear dos nossos pensamentos, sempre no passado e projetados para o futuro. Onde está o presente na nossa vida?
             Achamos que nossas ações a todo o instante se localizam no presente. Na realidade só é presente quando o observador observa o observado com total atenção. Naquele momento não existe mais nada, só a coisa observada e o observador. Isto é presente, é um momentum de vida. Não há interpretação, identificação com nada, é o viver pleno. Nesse agora, não há sofrimento, não há angústia nem dor, nem contradição. Como transformar isso em realidade, no cotidiano de nossas vidas? Ao varrer um chão, varremos, mas pensamos em tudo o que é possível pensar, menos na varredura, não é mesmo?  Podemos agora começar a varrer pensando na vassoura, nos cantos sujos, na forma de varrer melhor, mantendo o pensamento na tarefa de varrer, com plena atenção, pelo menos por alguns instantes. Estamos colocando o ato de varrer no presente. Podemos fazer da mesma forma para lavar a louça, trabalhar com uma máquina na indústria, realizar um projeto de engenharia, ler um bom livro, ou fazer compras no mercado. Vamos aliviando nossa mente de milhares de pensamentos a cada instante, para pensarmos somente no que temos de fazer. Que alívio! Que sentimento de liberdade, de esvaziamento. Estamos trabalhando, realizando propósitos, fazendo tudo que temos que fazer no presente, enfim vivendo a plenitude da vida.
            O passado desde nosso nascimento até o momento presente é a nossa história. Já aconteceu. Não modifica mais nada na nossa vida presente. Mas passamos a maior parte de nossas vidas pensando no que aconteceu, no que poderíamos ter feito, na oportunidade que perdemos, naquela pessoa especial que nos deixou etc. Todo esse passado está em nossa memória, mas é só um arquivo, e pensamos nele cerca de 60% do tempo. Esse passado não consegue mais transformar nossa mente para melhor. Quanto ao futuro, bem o futuro não existe, pois é o desconhecido, portanto não temos memória e, por conseguinte não podemos pensar nele. Quando falamos em relação ao futuro, na realidade, projetamos o que já é conhecido para um tempo que ainda virá. A mecânica quântica considera nossa existência como uma probabilidade, o que reforça a ideia de que o futuro é apenas uma forma de interpretar o tempo.
             Aqui residem hipóteses muito antigas de que o nosso modo de viver é uma ilusão, tendo em vista que nossos problemas e sofrimentos são criados e dificultados pelos nossos pensamentos, pela ansiedade na mente e todo tipo de infortúnios projetados para nossa vida. É ilusão porque não vivemos com nossa essência, nosso eu verdadeiro, nossa presença a cada momento presente. Vivemos com nossos condicionamentos de um mundo externo.



           
        Como disse Albert Einstein, “Nenhum problema pode resolvido pelo mesmo grau de consciência que o gerou”. Daremos soluções aos nossos conflitos se a cada ato realizado colocarmos consciência no que estivermos fazendo.

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